quarta-feira, 26 de abril de 2017

O REFÚGIO E O MAR DE DESUMANIDADES


Era uma tarde chuvosa. Com ela, as altas ondas deixavam o Mar Mediterrâneo revolto. Além da forte chuva, uma neblina impedia a visibilidade.

Nesse ambiente repleto de insegurança, estava para acontecer um pequeno milagre. E sempre que se trata de preservação ou surgimento de uma vida, há algo forte e inexplicável a que denominamos de milagre.

Naquele cenário cinzento, um condutor de um barco de pesca italiano conseguiu avistar, em pleno oceano de água, uma mão esticada, e conseguiu socorrer a tempo um homem adulto, o único das 300 pessoas que lotavam um pequeno bote e que conseguiu sobreviver ao naufrágio ocorrido a centenas de metros do local.

Os mortos eram todos solicitantes de refúgio. Fugiam de guerras, de massacres e de desastres naturais. Eram oriundos da África subsaariana e de países islâmicos do Oriente Médio e da Ásia.

Só com aquele naufrágio, três centenas de mulheres, crianças e idosos submergiram no mar distante de suas casas para nunca mais serem vistos por seus parentes ou amigos. Ao longo do ano foram milhares de mortos. Ao longo da história, então, imagina-se que aquele mar contabilize milhões ou dezenas de milhões de seres humanos afogados quando buscavam a chance de uma nova vida.

Não seria essa a primeira vez que imigrantes morrem em um naufrágio no mar tão famoso e tão repleto de histórias de navegações por sobrevivência, conquistas e confrontos, o que acompanha a humanidade por toda a sua história.

Não se sabe ao certo quando o primeiro homem se afogou no Mediterrâneo em busca de um lugar melhor para viver. A história nos relata histórias de muito tempo atrás, milenares, em que muitos povos fugiam de regiões áridas para outras menos cruéis. Talvez desde o surgimento da humanidade o ser humano já estivesse em busca de um local distante que pudesse servir de abrigo. Daí, como atestam descobertas científicas não tão recentes, surgiram as primeiras rotas migratórias da humanidade. E ao longo desses caminhos, o homem povoou a Terra e fez com que a sua própria história se confundisse com o que mais recentemente passou a se denominar de instituto do refúgio. Disso decorre a sua importância vital para a sobrevivência da humanidade e do próprio homem.

Segundo o velho testamento, os judeus fugiram do Egito em direção a uma terra que teria sido prometida àquele povo. De acordo com o novo testamento, a família do pequeno Jesus fugiu da Palestina e se refugiou no Egito para escapar do massacre de crianças. Embora a Bíblia assim não denomine, as duas hipóteses tratam da busca por refúgio.

A história é rica em refúgios em massa, decorrentes de massacres, guerras, perseguições, catástrofes climáticas e ainda há hoje os que chamam os refugiados de meros imigrantes.

Mais que os imigrantes, que deveriam ter o pleno direito de circulação e de locomoção, e cuja motivação normalmente é econômica, os refugiados buscam sobreviver, largando sua vida, família, amigos e história para trás.

Nesse mundo turbulento, onde cresce dia a dia a necessidade de refúgio, seja por guerras, perseguições ou por catástrofes climáticas, cresce o preconceito aos refugiados e os crimes de sangue praticados contra esses seres.

A falta de sensibilidade e de conhecimento da história cria um exército insano, disposto a não estender a mão e a ver aquele que pede ajuda como um inimigo a ser combatido.

E o direito ao refúgio talvez seja o direito humano mais antigo, ainda que assim não fosse chamado. Com ele o ser humano busca salvaguardar a sua própria vida, a única coisa que tenta carregar nesse mar de desumanidades criado pelo próprio homem.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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