quinta-feira, 28 de abril de 2011

ENTRE A GRADE E O BUEIRO - PARTE V

Diário Liberdade - Michael Collon
Parte do valioso texto escrito pelo jornalista belga Michael Collon, sobre as causas reais da ofensiva imperialista contra a Líbia.

Os verdadeiros objetivos dos EUA vão bem além do petróleo

Quais os verdadeiros objetivos de EUA? Neste ponto de nossa reflexão, vários indícios permitem já descartar definitivamente a tese da guerra humanitária ou da reação impulsiva ante os acontecimentos. Se Washington e Paris têm deliberadamente recusado toda negociação, se têm estado "forjando" desde faz tempo a oposição líbia e preparado palcos detalhados de intervenção, se os portaviões estavam a postos desde fazia tempo, prontos para intervir (como o confirmou o almirante Gary Roughead, chefe do US Navy: "Nossas forças já estavam posicionadas em frente da Líbia", Washington, 23 de março), deveremos pensar que esta guerra não se decidiu no último momento como reação a súbitos acontecimentos, e que estava planificada. Porque esta guerra persegue uns objetivos que ultrapassam muito largamente a pessoa de Kadafi. Quais?

Nesta guerra contra Líbia, Washington persegue vários objetivos ao mesmo tempo: 1. Controlar o petróleo. 2. Assegurar a Israel. 3. Impedir a libertação do mundo árabe. 4. Impedir a unidade africana. 5. Instalar a OTAN como gendarme da África.
Parecem muitos objetivos? Sim. Exatamente igual que nas guerras precedentes: Iraque, Iugoslávia, Afeganistão. Uma guerra deste tipo, efetivamente, custa muito e supõe riscos importantes para a imagem dos EUA sobretudo se não conseguirem ganhar. Se Obama desencadeia uma guerra assim é porque espera obter importantes benefícios.

Objetivo nº 1: Controlar todo o petróleo

Alguns dizem que desta vez não é uma guerra pelo petróleo porque as quantidades líbias seriam marginais na produção mundial e que, de qualquer jeito, Kadafi já vendia seu petróleo aos europeus. Mas esta gente não entende em que consiste a "guerra mundial do petróleo"...

Com o agravante da crise geral do capitalismo, as grandes potências econômicas estão metidas em uma briga a cada vez mais encarniçada. Neste jogo de cadeiras as vagas são caras. Para garantir uma cadeira a suas multinacionais, cada potencia deve ser batida em todas as frentes: conquistar mercados, conquistar zonas de mão-de-obra rendível, obter grandes contratos públicos e privados, assegurar monopólios comerciais, controlar Estados que lhes concedam vantagens... E, sobretudo, assegurar o domínio das matérias-primas cobiçadas. E antes de mais nada, do petróleo.

No ano 2000, ao analisar as guerras que iam vir, em nosso livro Monopoly, escrevíamos: "Quem quiser dirigir o mundo deve controlar o petróleo. Todo o petróleo. Onde quer que esteja." Se é uma grande potência, não te basta com assegurar teu próprio abastecimento de petróleo. A cada vez quererá mais, quererá o máximo. Não só pelos enormes lucros, como porque assegurando um monopólio, estará em condições de privar dele os rivais incomodativos e impor as condições. Terá a arma absoluta. Chantagem? Sim.

Desde 1945, EUA fez tudo por se assegurar este monopólio sobre o petróleo. Um país inimigo como o Japão, por exemplo, dependia até 95% dos EUA em seu abastecimento de energia. Com o que garantir sua obediência. Mas os relacionamentos de força mudam, o mundo faz-se multipolar e EUA enfrenta a subida da China, à recuperação da Rússia, à emergência do Brasil e outros países do Sul. O monopólio faz-se a cada vez mais difícil de manter.

Que o petróleo líbio representa somente 1% ou 2% da produção mundial? De acordo, mas é o de melhor qualidade, a mais fácil extração e portanto muito rendível. E sobretudo fica bem perto da Itália, da França e da Alemanha. Importar petróleo de Médio Oriente, da África negra ou da América latina sai a um custo muito maior. Sim há, portanto, guerra pelo ouro negro líbio. E mais para um país como a França, tão comprometido em um programa nuclear a cada vez com mais riscos.

Neste contexto há que recordar duas coisas: 1. Kadafi desejava subir a participação do Estado líbio no petróleo de 30% para 51%. No dia 2 de março último, Kadafi queixava-se de que a produção petrolífera de seu país estava em seu nível mais baixo. Ameaçou com substituir as firmas ocidentais por sociedades chinesas, russas e indianas. Coincidência? Cada vez que um país africano se volta para a China, já tem problemas.
Outro indício: Alí Zeidan, o homem que disse o dos "seis mil mortos civis", vítimas dos bombardeios de Kadafi, este homem que é também porta-voz do famoso CNL, o governo de oposição, reconhecido pela França. Bem, neste ponto, Alí Zeidan declarou que "os contratos assinados serão respeitados", mas que o futuro poder "terá em conta às nações que nos ajudaram"! Trata-se pois certamente de uma guerra do petróleo. Mas não se desenvolve unicamente na Líbia...

Por que estas rivalidades EUA - França - Alemanha?

Se a guerra contra a Líbia é justa e humanitária, não se compreende por que os que a fazem brigam entre eles. Por que Sarkozy se precipitou por ser o primeiro em disparar? Por que se zangou quando a OTAN quis levar o controle das operações? Seu argumento "A OTAN é impopular nos países árabes", não se tem em pé. Como se ele, Sarkozy, fosse tão popular após ter protegido, como já fez, Israel e Ben Alí !

Por que a Alemanha e a Itália se mostraram tão renuentes ante esta guerra? Por que o ministro Frattini declarou ao princípio que fazia falta "defender a soberania e a integridade territorial de Líbia" e que "a Europa não deveria exportar a democracia a Líbia"[1]" Simples divergências sobre a eficácia humanitária? Não, trata-se aqui também de interesses econômicos. Em uma Europa enfrentada a uma crise, as rivalidades são a cada vez maiores também. Ainda faz uns meses desfilavam todos a Trípoli para abraçar Kadafi e conseguir os bons contratos líbios. Os que os obtinham, não tinham nenhum interesse em derrocá-lo. Os que não, sim tinham interesse nisso. Quem era o primeiro cliente do petróleo libio? Itália. O segundo? Alemanha. Continuemos com os investimentos e as exportações das potências européias... Quem conseguia a maioria de contratos na Líbia? Itália. Número dois? Alemanha.

Era a firma alemã BASF que chegava a ser a principal produtora de petróleo na Líbia, com um investimento de dois mil milhões de euros. Era a firma DEA, filial do gigante da água RWE, a que obteve mais de 40.000 quilômetros quadrados de jazigos de petróleo e de gás. Era a firma alemã Siemens que jogava o papel mais importante nos enormes investimentos do gigantesco projeto "Great Man Made River", o maior projeto de irrigação do mundo, uma rede de encanamentos para levar a água desde os aquíferos desde Nubia até o deserto do Saara. Mais de 1.300 poços, com frequência a mais de 500 metros de profundidade, que uma vez terminados, forneceriam diariamente 6,5 milhões de metros cúbicos de água a Trípoli, Benghazi, Sirte e outras cidades[2]. 25 mil milhões de dólares que atraíam algumas cobiças! Além disto, a Líbia, com seus petrodólares, tinha se embarcado em um ambicioso programa para renovar suas infraestrutura, construir escolas e hospitais e para industrializar o país.
Aproveitando o seu potencial econômico, a Alemanha tinha se associado com sócios privilegiados da Líbia, Arábia Saudita e os países do Golfo arábigo. Não tinha pois nenhum interesse em manchar sua imagem no mundo árabe. Quanto à Itália, há que recordar que colonizou a Líbia com uma brutalidade inaudita apoiado nas tribos do oeste contra as do este. Agora, com a mediação de Berlusconi, as sociedades italianas obtiveram muito bons contratos. Têm pois muito que perder. Ao invés, França e Inglaterra, que nunca conseguiam bons pedaços do bolo, se põem à ofensiva para conseguir sua parte neste bolo. E a guerra da Líbia é simplesmente o prolongamento da batalha econômica por outros meios. O mundo capitalista, decididamente, não é muito belo.

A rivalidade econômica traduz-se em termos militares. Em uma Europa em crise e dominada por uma Alemanha de altos rendimentos (graças sobretudo à sua política de baixos salários), França rompe suas alianças e vira-se para a Inglaterra para tentar reequilibrar a situação. Paris e Londres têm mais meios militares do que Berlim e tentam jogar esta carta para contra-arrestar sua debilidade econômica.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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