sexta-feira, 19 de junho de 2009

OS EUA E A SUA DIREITA TERRORISTA



(O anúncio acima, no website Liberty Counsel, convida quem se orgulha de ser extremista de direita a enviar doações pela internet)

por ARGEMIRO FERREIRA - jornalista (escreve para o jornal Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro) e escritor (autor dos livros Informação e Dominação, Caça às Bruxas – Macartismo: Uma Tragédia Americana, O Império Contra-Ataca – As guerras de George W. Bush antes e depois do 11 de setembro).

Em abril a secretária de Segurança Interna dos EUA, Janet Napolitano, divulgou o extenso relatório de seu departamento (DHS, Homeland Security) sobre a ameaça do extremismo de direita no país. Foi ridicularizada pelo império Murdoch de mídia, Fox News à frente. Apesar da reação inicial, a advertência é afinal levada a sério depois de dois ataques extremistas – que podem ainda dividir o jornalismo da Fox.
Aparentemente os excessos dos talk shows de Murdoch preocupam também alguns jornalistas da casa. A vítima do primeiro dos ataques terroristas, em maio, foi o médico de uma clínica de aborto do Kansas, George Tiller, assassinado por um fanático da direita religiosa (saiba mais AQUI). No segundo, a 10 de junho, um extremista defensor da supremacia branca, James W. von Brunn, atacou o museu do Holocausto, na capital dos EUA, e matou um segurança a tiros (leia AQUI).

O extremismo de direita tem facções múltiplas. É religioso, patriótico e racista. Teme a invasão dos EUA por tropas da ONU e raças múltiplas, que chegariam em helicópteros negros. Em The Turner Diaries (capa abaixo, à direita), ficção racista e anti-semita, lida nas milícias que infestam o país, o autor (William Luther Pierce, sob o pseudônimo de Andrew Macdonald) retrata uma revolução violenta, guerra nuclear, tomada do poder e extermínio dos judeus e não-brancos.
A vítima do atentado do Kansas, George Tiller, era chamada pelo campeão de audiência do horário nobre na Fox News, Bill O’Reilly, de “assassino de bebês” – o que pode ter encorajado o extremismo de direita a matar Tiller. Depois do crime, O’Reilly jurou que fazia apenas “análises baseadas em fatos” e às vezes citava grupos cristãos contrários ao aborto, que chamavam Tiller de “baby’s Killer”.
“Um lugar no inferno para ele”
Jornalistas e blogs mais à esquerda acusam a Fox. “Qual o próximo alvo da ira de O’Reilly e (Glen) Beck a ser abatido a tiros por terroristas conservadores?” – perguntou a 31 de maio o blogueiro Markos Moulitsas, do Daily Kos. No mesmo dia Mike Hendricks escreveu no jornal Kansas City Star que são cúmplices todos os que se referiam à vítima, na TV, como “baby’s Killer” e “Tiller, the Killer”.
Para O’Reilly, seus críticos são “odiadores da Fox”: defendem a vítima, indiferentes à sorte de 60 mil fetos supostamente destruídos por Tiller. Ele jurou, ao mesmo tempo, nunca ter usado as expressões ofensivas ao médico. Mas o site Media Matters for America, ativo no monitoramento da mídia, relacionou as datas (foram dezenas) nas quais o dr. Tiller foi acusado daquela forma (confira AQUI).
A 27 de março, depois de Tiller ter sido absolvido em processo movido contra ele pelo fanático antiaborto, O’Reilly disse: “Tiller, o assassino de bebês, foi absolvido no Kansas. (…) Deve haver um lugar especial no inferno para esse cara”. A 3 de abril o herói do horário nobre da Fox atacou de novo: “Tiller foi absolvido no Kansas. Tiller, o assassino de bebês”. Eram afirmações dele e não citações.
Ao abordar, a 27 de abril, o veto a um projeto de lei antiaborto, ele se referiu de novo ao “caso de Tiller, assassino de bebês”. A 11 de maio, falando da secretária de Saúde Kathleen Sebelius, ex-governadora do Kansas, também observou ser aquele “o estado do dr. Tiller, o assassino de bebês”. Consumado o assassinato, não retirou o que disse: alegou cinicamente só ter usado a expressão ao citar grupos religiosos.
Fundamentalismo cristão, a ameaça
Na verdade, O’Reilly não informava. Estava numa cruzada, havia quatro anos, contra o dr. Tiller, que se tornara personagem fixo de seu talk show - até ser morto. O crime, a 31 de maio, levou mais jornalistas – Helen Kennedy no Daily News de Nova York, Keith Olbermann na MSNBC e a ex-produtora do “60 Minutes” da CBS, Mary Mapes, em artigo no Huffington Post – a culpar a pregação de ódio de O’Reilly.

Em razão disso veio ainda a reação inesperada dentro da própria Fox de Murdoch. O jornalista Shepard Smith (saiba mais AQUI), que apresenta de Nova York o noticiário Studio B, e a correspondente Catherine Harridge, que cobre o Pentágono e assuntos de segurança nacional, disseram que a morte do dr. Tiller e o ataque de James W. von Brunn ao museu do Holocausto davam relevância maior ao relatório do DHS.
Antes, ao ser divulgado o relatório, O’Reilly e Beck o repudiaram e Sean Hannity retratou o presidente Obama como o “Big Brother” de George Orwell que vigia os americanos. Smith e Harridge ousaram adotar posição oposta. O objetivo maior do DHS fora alertar os departamentos de polícia – e demais órgãos encarregados de fazer cumprir a lei – para a ameaça real do extremismo de direita.

A preocupação das autoridades do DHS, a começar pela secretária Napolitano, é compreensível. A partir do 11/9 a obsessão do país tinha passado a ser o extremismo muçulmano mas antes disso os terroristas mais ativos estavam na direita – entre eles milicianos brancos motivados pela supremacia racial e o fundamentalismo cristão obscurantista, na linha de Osama Bin Laden.
Ideais e obsessões de Oklahoma City
Na década de 1990, os federais (FBI, ATF) acompanhavam a proliferação de milícias e seitas no país, com confrontos como o que levou ao incêndio no complexo davidiano de David Koresh em Waco, Texas. Ali morreram 54 adultos e 21 crianças em 1993. Dois anos depois, em 1995, veio o atentado de Oklahoma City – o maior ocorrido no país antes do 11/9. Matou 168 pessoas e deixou mais de 800 feridas (saiba mais AQUI).
Veterano da guerra de 1991 no Iraque, o terrorista Timothy McVeigh (leia AQUI), simpático às milícias de direita, pagou com a pena de morte pelo crime. O relatório do DHS, não por acaso, alertava para a necessidade de preparar o país para o retorno dos veteranos da atual guerra do Iraque. Mas a Fox e a oposição republicana indignaram-se à mera menção desse grave problema, como se não fosse de fato preocupante.

Tratar com leviandade a morte de dr. Tiller e o ataque ao museu em Washington é um risco, como perceberam Smith e Herridge. Os bandos de direita talvez prefiram ser tratados como piada, mas são reais. Mais sensato é não subestimá-los. Até porque, com base naquele alerta do DHS, o grupo Liberty Counsel (conheça-o AQUI) já pede doações pela internet e oferece carteiras especiais aos que se orgulham de ser “extremista de direita” – para enfrentar o DHS.
Procurados pela mídia, responsáveis pelo site alegaram ser ele inofensivo, apenas humorístico – o que é duvidoso. Pregam-se ali os ideais e as obsessões das milícias: interpretação literal da Bíblia, santidade da vida (a cruzada antiaborto), valores tradicionais da família, porte de armas, redução do poder do governo federal, apoio “às nossas tropas” e aos veteranos. Timothy Weigh assinaria embaixo. Murdoch também.
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(veja a matéria original no blog do ARGEMIRO FERREIRA - clique aqui).

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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