quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"DITABRANDA" '"DITAFOLHA" "DITAFOLHAGEM" "DITAMIRAGEM"


Não é novidade para ninguém que a mídia brasileira está decadente. Ao invés de investir no jornalismo, optou por tratar o seu produto como mero marketing. E exemplo clássico disso é o Jornal Folha de S. Paulo. Assine o jornal para ter uma idéia. Você ganhará algum produto do valor da assinatura. Mas isso apenas na primeira assinatura. Nas renovações você perderá esse "carinho" da Folha Publicidade e Cia.


Também não é novidade para ninguém que esse jornal tido por alguns como "vanguarda da democracia" (cade esses alguns, agora?) forneceu veículos e informes aos membros da ditadura, enquanto o seu concorrente mais próximo, o jornal "O Estado de São Paulo", declaradamente mais conservador, mas menos infiel ao seu leitor, sofria de perto a censura e se via obrigado a publicar receitas de bolos.


Não é novidade que a ditadura chamada de militar teve amplo apoio da mídia nacional, dentre eles a "Folha de S. Paulo" e o próprio "O Estado de S. Paulo". A oposição era feita apenas pelo jornal Última Hora e pela Tv Excelsior. Ambos foram perseguidas pela ditadura e a concessão da Tv Excelsior, que fundou o padrão de qualidade copiado pela Tv Globo, foi rompida.


Também não é novidade que durante a ditadura chamada de militar houve prisões ilegais, censura, perseguições políticas, cassações, espionagem clandestina, tortura e assassinatos.


Também não é novidade para ninguém que um regime democrático, com um presidente eleito, João Goulart, foi deposto às escuras, com o apoio estadunidense, inclusive.


Também não é novidade alguma que as empresas multinacionais foram beneficiadas com o golpe contra a democracia, prejudicando alguns grupos empresariais brasileiros e o modelo de sindicalização. Daí surgiria um novo modelo de sindicalismo, representado pelo Lula, hoje presidente do Brasil.


Não é novidade que o golpe contra a democracia amordaçou os intelectuais, enfraqueceu o pool cultural vivido pelo Brasil naquele momento, diluiu a qualidade jornalística, perseguiu grandes nomes da inteligência brasileira, confundiu valores nacionais e nacionalismo com o apoio à ditadura, e beneficiou alguns grupos midiáticos que cresceram exponencialmente, como o império Globo de Comunicações.


Quantos brasileiros perderam a vida? Quantos brasileiros foram obrigados a largar o magistério e o serviço público? Quantos brasileiros não foram expulsos das Forças Armadas? Quantos brasileiros não choraram no exterior o silêncio popular? Quanta injustiça não foi cometida?


Para a Folha de S. Paulo, tudo isso é algo brando, tranquilo, suave. Talvez na ótica daqueles que se beneficiaram, assim seja, mas na ótica dos valores nacionais, na ótica da política nacional, na ótica da justiça social, na ótica dos direitos humanos, a ditadura brasileira, ainda que antes do Plano Condor, não foi suave em nenhum aspecto. Basta lembrar do silêncio generalizado, das prisões e das torturas.


É lamentável que um órgão de imprensa que tem a maior tiragem diária impressa do país cometa não um engano, mas crimes lesapátria e contra a história nacional, ao criar o absurdo termo ditabranda. Utilizando esse mesmo tipo de linguagem, talvez pudessemos chamar o jornal Folha de mera folhagem, mero arbusto, que apenas esconde o campo de visão sem mostrar a realidade. Não é um mirante, longe disso, mas mera miragem que agora se esvai.


Feito o desabafo, recomendo a leitura do texto abaixo, recentemente publicado no Observatório da Imprensa.

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"DITABRANDA" NA FOLHA

Direita, volver!


Por Luiz Antonio Magalhães em 23/2/2009

Há males que vêm para o bem, lembra o dito popular. No último dia 17 de fevereiro, em Editorial contra o presidente venezuelano Hugo Chávez, a Folha de S. Paulo qualificou, assim como quem não quer nada, en passant, de "ditabranda" o regime militar que vigorou no Brasil entre 1964 a 1985.
Para que não reste nenhuma dúvida sobre o que foi escrito na Folha, vai a seguir a transcrição do trecho que vem provocando tanta polêmica:
"Mas, se as chamadas ‘ditabrandas’ -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso."
Para começo de conversa, causa espécie que o jornal escreva "as chamadas ‘ditabrandas’" quando não há notícia de que alguém tivesse, antes da Folha, a idéia de jerico de qualificar o regime militar de tal forma. Este observador fez uma busca no Google e constatou que a pesquisa retorna apenas as referências à polêmica iniciada pela Folha. Ninguém antes qualificou a ditadura brasileira de "ditabranda".
Aliás, a busca no Google já vem carregada de ironia, pois antes da primeira indicação de link, o buscador pergunta: "você quis dizer dieta branda?" Como bem sabem os iniciados, toda vez que alguém erra a digitação da palavra, o Google cuida de corrigir ou sugerir o nome correto. Ditabranda, portanto, é coisa lá da rua Barão de Limeira mesmo. Dieta branda teria sido realmente mais feliz.
Mas até aqui, é justo dizer, a direção da Folha e seus editorialistas têm todo o direito de achar que os militares pegaram leve. É uma questão de gosto e escolha, provavelmente o assinante do Estadão jamais leria tamanho despautério, ainda que o jornal se posicione de maneira muito mais conservadora do que a Folha em várias questões. A razão para isto é simples: O Estado de S. Paulo sofreu bem mais com a censura e sabe o quão duro foi o dito governo. De toda maneira, o diário da família Frias não precisa se envergonhar em qualificar de ditabranda o regime em questão, da mesma maneira que a turma da Abril não só pensa que pegaram leve como anda saudosa de um novo período semelhante, especialmente para tirar essa gente barbuda e mal educada que insiste em permanecer altamente popular em meio à maior crise do capitalismo.
Nota da Redação: jornal muda de rumo
Não foi no editorial, portanto, que a Folha perdeu a mão. Nos dias que se seguiram à publicação daquela jóia do pensamento que emerge no nono andar do belo prédio do jornal, os leitores naturalmente reclamaram, enviando cartas indignadas à redação. O Painel do Leitor publicou algumas nos dias 18 e 19, mas foi no dia 20 de fevereiro que o jornal mostrou a sua verdadeira cara. Depois de uma sequência de cartas de leitores, apareceram duas de "figurões", seguidas por uma inacreditável resposta da Redação, como segue abaixo.
"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda’? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala -que horror!" MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES , professora da Faculdade de Educação da USP (São Paulo, SP)
"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana." FÁBIO KONDER COMPARATO , professor universitário aposentado e advogado (São Paulo, SP)
Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa.
É preciso ler com calma a tal Nota da Redação. Que a Folha respeite a opinião dos leitores é o mínimo que se pode esperar. Imagine o grau de arrogância, que já não é baixo, se não respeitasse... Mas o que realmente choca neste caso é a Redação classificar de "obviamente cínica e mentirosa" a indignação de Fábio Konder Comparato e Maria Victoria Benevides, como se para que os dois se indignassem com a barbeiragem do jornal fosse necessária a indignação prévia com Fidel Castro.
Este observador aprendeu com seu avô, pioneiro do ensino de Filosofia na Universidade de São Paulo, que o fiofó nada tem a ver com as calças. Ou, como diria outro filósofo, este da esfera futebolística, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". Comparato e Benevides não têm "autorização" da Folha para se indignarem, precisam antes bradar que não gostam de Fidel e seus amigos e, principalmente, que Cuba é uma DI-TA-DU-RA. Ou será que se os eméritos professores também qualificarem o regime cubano de "ditabranda" a Folha já deixaria de considerar "cínica e mentirosa" a indignação dos dois?
O pior de tudo realmente não foi o editorial, bem lamentável, mas a Nota da Redação de 20/2. Pior, sim, porque todo foca que passou uma semana em qualquer redação do país sabe que uma nota dessas não é publicada sem a anuência da direção do jornal. Por mais que o editor do Painel do Leitor vista a camisa do jornal, ele não tem autonomia para chamar Fábio Konder Comparato de cínico e Maria Victoria Benevides de mentirosa. A nota veio de cima, o que só reforça a ideia de que também o editorial foi cuidadosamente pensado para que o jornal emitisse o juízo de valor que tem, hoje, sobre a ditadura brasileira.

Não será surpresa se a Folha roubar Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi da Veja. A esta altura, é bem provável, inclusive, que ambos já tenham sido sondados. E, ironia das ironias, não demora muito para o leitorado paulista de esquerda migrar para o Estadão. Há mesmo males que vem para o bem: nível de azia na leitura será bem menor...
PS em 22/02: O ombudsman da Folha, em sua coluna semana publicada no domingo (22/02), parece concordar com este observador. Evidentemente, Carlos Eduardo Lins e Silva foi mais ameno na forma, mas não deixou de assinalar o despropósito da Nota da Redação do jornal, conforme se pode ver abaixo:
Duas opiniões que mobilizam muitos leitores
Já me referi aqui ao escopo do trabalho do ombudsman, que não abarca as opiniões publicadas pelo jornal, em editoriais, colunas ou artigos.
O ombudsman se atém aos aspectos técnicos, factuais, comprováveis, verificáveis. Opinião é como religião, time de futebol, convicção ideológica: cada um tem a sua e nenhuma é melhor que outra.
Mas, talvez porque, como ensinava Spencer, a opinião é determinada em última análise pelos sentimentos, não pelo intelecto, ela mobiliza manifestação de muitos leitores.
Esta semana, duas motivaram pelo menos 115 mensagens. Sem entrar no seu mérito opinativo, vou tratar de ambas.
Um post de blog do Folha Online trazia no título as palavras vadias e vagabundas acima de foto em que apareciam Marta Suplicy e Dilma Rousseff. Pareceu-me uma insinuação de mau gosto e insultuosa.

Um editorial com referência ao regime militar brasileiro provocou cartas publicadas no "Painel do Leitor". Resposta da Redação a duas delas na sexta foge do padrão de cordialidade que julgo essencial o jornal manter com seus leitores.

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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