domingo, 17 de janeiro de 2010

São Paulo submersa, o enterro e as mãos molhadas

Uma amiga contou-me uma história hilariante que se passou em um momento triste, a morte de uma tia.
Ah, tadinha da tia! Já tinha 90 anos e era solteira. Não tinha filhos nem irmãos, apenas sobrinhos. E de todos os sobrinhos, apenas 3 resolveram ir ao enterro. E desses 3, apenas a minha amiga se dispôs a pagar as despesas. Pagou-as, deu carona aos outros sobrinhos e ia em direção ao cemitério, quando... Nossa, não acredito, disse a ela, quando me contou a história!... a cidade parou devido às chuvas. Tudo estava sob as águas, menos o carro dela e o caixão da tia. São Paulo estava submersa, menos ela, o seu carro, os dois sobrinhos da tia e essa, que estava no caixão. Até o motorista da funerária resolveu sair do carro e molhar os pés. Para quê eu não sei, nem ela sabia. Pensei que ele queria ter as mãos molhadas, mas não os pés. Sim, as mãos molhadas. Sabe o que ele mandou um amigo da funerária fazer? Ligar para a minha amiga e dizer o seguinte: - olha, as despesas não incluíram o trajeto, e como São Paulo está sofrendo com a enchente e os custos aumentaram, a senhora terá que pagar mais R$ 900,00... Novecentos reais? - gritou a minha amiga. Sim, disse a pessoa do outro lado da linha. Os outros sobrinhos olharam para ela e logo viraram os rostos, pois não queriam dividir nada com ela, a não ser a herança da tia. Teve um espaço de silêncio na história. Ela estava a pensar. E pensou. E concordou. Faria o depósito assim que retornasse do cemitério. Aliás, antes ela precisava chegar lá.

Assim que soube que a sua mão estava molhada, o motorista voltou ao carro, enxugou os pés, mas as mãos preferiu manter bem molhadas, e ligou a sirene. Sim, esses carros funerários carregam uma sirene. Qual a razão eu não sei, pois não há urgência, o morto não tem mais estresse. Pode ter tido, e muito, mas nesse momento não tem mais. Para que será a sirene, pensou a minha amiga... E a resposta veio logo em seguida. Ele conseguiu abrir caminho, jogou o carro nos rios de água que se formavam nas ruas, e ela foi atrás. Em 40 minutos, uma proeza para o trânsito de São Paulo, eles conseguiram chegar ao cemitério que não distava mais que 2 quilômetros da funerária. A tia foi enterrada, ela chorou, pagou um café aos outros dois sobrinhos da tia, se despediu do motorista, deixou os outros sobrinhos em casa e foi à funerária, onde pagou os R$ 900,00 a mais. E São Paulo continuava submersa... E o motorista e os outros funcionários e sócios da funerária molhavam as mãos... E São Paulo continuava submersa. E ela, após o banho, secou-se e deitou para tentar sonhar. E São Paulo continuava...

Cyro Saadeh

Para refletir:

Para viver, sinta, sonhe e ame.
Não deseje apenas coisas materiais.
Deseje o bem e multiplique as boas ações.
Sorria, sim. Mas ame mais.

Ame a si, aos outros, a quem está próximo e distante.
Ame quem errou e quem acertou.
Não diferencie.

O amor não julga. O amor não pune. O amor aceita.
Pense nisso e aceite a vida.

Vamos brincar com as palavras?



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